A planta Cannabis sativa é originária provavelmente da Ásia e seu uso medicinal está descrito desde o período neolítico, há mais de 10 mil anos. Na China (2700a.C) o famoso imperador amarelo considerava a planta como uma das mais importantes para o tratamento de inúmeras doenças. Os Egípcios, Gregos e Romanos também documentam o seu uso medicinal.
O prestigiado médico persa Avicena que escreveu um belíssimo tratado de medicina na era medieval usava a cannabis para o tratamento de dores de cabeça e doença degenerativa dos ossos e articulações, gota, feridas e dores uterinas. A planta veio para as américas provavelmente através dos povos africanos que já conheciam suas propriedades medicinais e, por isso, ficou conhecida como “fumo de Angola”, sendo usada também por esses povos para fins religiosos.
Tipos de Canabinoides
No século XIX a planta se consolida na Europa através de um cirurgião irlandês que estava em missão na Índia e atendeu uma criança com convulsão refratária aos tratamentos da medicina da época e então conheceu um tratamento utilizado pelos moradores locais feito com a tintura da cannabis e o resultado o surpreendeu tanto que ele levou as boas novas para a Europa. Em 1843 ele publicou o que viria a ser o primeiro de muitos trabalhos científicos sobre os benefícios da planta.
Temos inúmeros compostos fitoquímicos da Cannabis que podem ter efeito terapêutico (são mais de 500 compostos) mas nem todos foram estudados e elucidados ainda, porém tem dois compostos que são muito bem conhecidos – o Canabidiol (CBD) e o Tetrahidrocanabinol (THC).
Para entender melhor como eles funcionam no nosso corpo temos que saber o que é o SISTEMA ENDOCANABINOIDE (SEC).
Não só os mamíferos possuem um SEC – ele também existe nos vertebrados e em animais ancestrais e menos complexos, mostrando que, na escala filogenética, é um sistema muitíssimo antigo. Esse sistema é composto por canabinoides internos (endocanabinoides) – sim, nosso corpo produz canabinoides, então, não tem por que achar que essa substância é ruim. Além dos canabinoides (os internos) faz parte do SEC as enzimas de degradação e síntese e ainda os receptores CB1R e CB2R (estruturas onde esses canabinoides irão agir). Esse sistema, regula todos os outros biossistemas, como um maestro que dirige uma orquestra, mantendo todos os instrumentos tocando em perfeita harmonia, produzindo assim uma agradável melodia.
Quando esse sistema, por razões ainda não conhecidas totalmente, se desequilibra ou deixa de funcionar adequadamente, temos alteração nessa “música” e então teremos os sons ruidosos que são as doenças.
É aí que entra a planta com seus fitocanabinoides – o CBD e o THC – eles irão reorganizar a capacidade do maestro de conduzir corretamente a orquestra e, assim, voltar a produzir a música da saúde, promovendo o equilíbrio dos sistemas corporais entre si, o que leva a um estado de homeostase (autoregulação entre os diferentes sistemas).
Receptores endocanabinoides pelo corpo
Como temos receptores canabinoides espalhados por todo o corpo (cérebro, músculos, ossos, pele, coração, rins, etc), é de se esperar que a ação dos canabinoides seja percebida em todos os biossistemas e, cada vez mais pesquisas demonstram o potencial de regulação dos mais diversos órgãos do nosso corpo.
Visto isso, entendemos o porquê a cannabis medicinal vai atuar em tantas doenças, fazendo muitos médicos acharem que seria impossível uma única planta agir em tantas estruturas ao mesmo tempo – mas sim, é possível.
Temos, então um tratamento natural (fitoterápico) com capacidade de regular todos os biossistemas corporais de forma extremamente versátil e sem efeitos adversos conhecidos. Isso é uma grande revolução na forma de tratar as pessoas pois não estamos falando de curar um órgão específico, mas de regular todos eles para que interajam entre si da forma mais organizada possível.
Não é a toa que a Anvisa registrou um aumento nas importações de produtos a base de cannabis de 491% em 2021, mostrando que tanto médicos que se especializaram no assunto, quanto pacientes carentes de um tratamento substituto do insucesso com a alopatia convencional pudessem ter acesso a essa terapia.
Lembre-se: é importante procurar um médico com experiência prescritiva em cannabis medicinal para uma maior eficácia das propriedades dessa ferramenta terapêutica e deixar que essa planta possa trabalhar a favor da vida.
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